Do Sol.
A minha mãe, que viveu no Porto, depois em Coimbra e finalmente em Lisboa, lamentava-se, no final dos longos dias invernosos que há não mais de um mês nos atormentavam, que um dos motivos por que se tinha decidido por Lisboa era a luz, o sol. Lamentava-se por não estarmos (ela, eu e demais lisboetas) habituados a tanto Inverno seguido.
Por estes dias, toda a gente já esqueceu esses, de frio e vento e chuva quase constantes. A Primavera anuncia-se prematura e pujante, trazendo temperaturas bem acima dos vinte a meio do dia, árvores que brotam já em verde pálido a nascer, chinelos, calções e t-shirts, um esforço sem tino para fazer esquecer a palidez da estação em que, apesar de tudo, ainda estamos.
Aos telejornais dá jeito que o pessoal se esqueça, na praia, que o mar não vai nisso e ainda está agitado, mal vigiado, sorridente cruel de correntes traiçoeiras e ondas devoradoras de polacos e portugueses e outros incautos.
A quem trabalha, como eu, com vista para uma fachada azul bebé que o sol faz sobressair, mais adiante as tais árvores a anunciar verde, uma relva já brilhante ao virar da esquina, a mim, dizia eu, o sol faz-me suspirar por fins de semana e esplanadas com vista sobre a cidade.
A noite arrefece, mas não de mais e o calor vai ainda demorar a entranhar-se nas paredes, adquirindo aquela qualidade pastosa que nos desacelera os verões. Enquanto isso, roubei este título ao Jacinto Lucas Pires e escrevi um post pela hora que me agrada mais que todas, o lusco-fusco.