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luís soares

Blog do escritor Luís Soares

A Turma.

Fui aluno durante dezasseis anos consecutivos, segundo os nomes que tinham na altura, da primária, da preparatória, da secundária, da universidade. Antes disso andei em jardim-escola, depois ainda passei uns dois anos em torno da universidade. Mais tarde ainda dei umas aulas numa pós-graduação e pelo meio algumas apenas como convidado.

Fui delegado de turma, representante no conselho pedagógico, convivi com alguns dos meus professores fora da escola (depois de terem sido meus professores), ajudei a criar um jornal escolar, participei em numerosas campanhas para a Associação de Estudantes (nunca ganhei) e ajudei a organizar algumas festas.

Os meus pais são ambos professores, hoje reformados já, desiludidos talvez, mas sempre empenhados e desde sempre, à mesa de jantar e depois, nos convívios familiares de Natal (onde havia sempre pelo menos mais um ou dois professores), que me lembro de ouvir falar do ensino, da escola, dos alunos, do que se passa dentro e fora das paredes daqueles edifícios.

Ver "A Turma", premiado em Cannes com a Palma de Ouro, foi por isso para mim, mais do que uma simples experiência cinematográfica, também uma experiência de memória, uma experiência de recordação racional, emocional, física até por vezes, do que é uma sala de aula, um recreio, um professor, cerca de trinta alunos.

O filme retrata de forma sublime, a tensão do ensino e da aprendizagem, do castigo e da recompensa, da autoridade e da rebeldia, da dúvida, do sentido de missão e dos seus limites, da dinâmica dos grupos e da pulsão dos indivíduos. Nunca se torna meloso ou simples, nunca reforça aquilo que é óbvio no ecrã com efeitos visuais ou sonoros, com música, câmaras lentas, irrequietudes. Tem um lado mais do que assumido de "vérité".

E contudo, conta uma história, conta várias histórias, tem uma dinâmica narrativa brilhante, faz-nos sentir aquelas personagens, torcer por elas, mesmo quando nem para elas nem para nós seja evidente qual poderia ser o caminho "certo". E também nisso nos envolve como cúmplices participantes desse lugar, desse período que, pessoalmente o repito, é dos mais importantes de qualquer vida.

Obrigado.

Expectativas exacerbadas.

A Jenny Holzer tinha como um dos seus "truisms", "High Expectations are Good Protections", mas a julgar pelas capas do lado, nos Estados Unidos está a acontecer exactamente o contrário. O recém-eleito-futuro-presidente Barack Obama está a ser pressionado, por apoiantes e adversários com níveis de expectativas com que, creio, nenhum presidente americano se viu antes confrontado. É certo que o momento é histórico mas a comparação com dois dos mais importantes e mais amados presidentes da história do país é talvez exagerada e sobretudo prematura. A melhor maneira de o fazer falhar vai ser pedir-lhe mais do que é humanamente possível, mas afinal, não é essa parte importante do sonho americano? Não foi na expectativa de superar a mediocridade que ele foi também eleito? Obama é quase um atleta, um presidente olímpico, que deve agora exceder a sua humanidade.