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luís soares

Blog do escritor Luís Soares

Reflexão. Posição. Depressão.

Começando pela depressão, ler os currículos de José Sócrates e de Pedro Passos Coelho, as duas pessoas que têm a hipótese de ser primeiro-ministro de Portugal nos tempos mais próximos, é um exercício deprimente. Não lhes reconheço valor, nem qualidades, nem conhecimento, nem educação que os qualifiquem para o cargo. Não os admiro, não gostaria de trabalhar com eles, muito menos trabalhar para eles. Sim, Sócrates tem mais experiência. Já é primeiro-ministro e foi-o durante seis anos. Mas nem chego a perceber se isso contribui para o currículo. Provavelmente não.

Os melhores de Portugal fogem, reservam-se, estão à margem. Mas mesmo aí, alguns lutam.

Mais que isso, deprime-me o facto da luta pelo cargo de primeiro-ministro ser um concurso de popularidade mediático apenas muito ligeiramente diferente de outras boçalidades do género, como o Big Brother, o Perdidos na Tribo, o Peso Pesado. É o mínimo denominador comum da lagriminha para as massas, do "sound byte", da boa imagem. Tudo o que, para mim, menos importa.

A isto some-se Paulo Portas, homem de currículo feito, na política e no jornalismo. Sinónimo de hipocrisia, populismo, falta de espinha dorsal, zigue zague político, superficialidade absoluta. O pior de entre os piores neste campeonato da política que está algures entre o "reality show" e o clubismo futebolístico.

Sim, porque a mim ensinaram-me há largos anos já, que a política era o estudo e definição do que "podemos fazer", diferindo, por exemplo, da moral, que seria a filosofia do que "devemos fazer". Se o que podemos fazer é apenas o que PS, PSD e CDS nos apresentam, afundo-me ainda mais na depressão.

Já decidi, portanto, em quem não vou votar. Falta-me decidir em quem votar.

Como alguns já saberão, participei no livro "Ideias Perigosas Para Portugal" com um texto sobre a forma como as escolas deviam usar as redes digitais, para comunicarem e se abrirem à sociedade, mostrando-se como centros de ensino e criatividade. Isso está a acontecer também na política e o Gustavo Cardoso, organizador da dita obra, é das pessoas que mais tem falado sobre o assunto. Há todo um conjunto de movimentos políticos que usam mais que tudo os meios digitais em rede que não encontram reflexo nos media tradicionais, cristalizados nos formatos tradicionais da democracia partidária.

Na Economia, é ainda pior. A única hipótese é a Troika. A única hipótese é o mercado livre o mais desregulado possível. A única hipótese é depender do sistema financeiro global, cada vez mais automatizado e gerido algoritmicamente. A única hipótese é sermos números num Excel. Nunca achei que o mercado livre precisasse da democravia e vice-versa. A China provou-o largamente. O mundo todo parece apostado em seguir-lhe as pisadas. Ler este artigo da Rolling Stone é ler a história de um século XX (e começo do XXI) a caminho de uma espécie de fascismo oligárguico do mercado livre (sim, a expressão está cheia de contradições de propósito). É irónico que Dominique Strauss-Kahn tenha sido preso pelos seus disparates sexuais. É um bocadinho como Al Capone ter sido preso por fuga ao fisco.

Faço o meu trabalho de todos os dias. Faços uns posts aqui. Tento manter-me informado e ter uma opinião lúcida. Leio e escrevo. Que me resta? Vou reflectir.