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luís soares

Blog do escritor Luís Soares

De livro em livro.

Há uma cena no Star Wars (o original, o primeiro, ainda sem efeitos especiais revistos) em que Obi Wan Kenobi, o shakespereano Alec Guinness cambaleia ao sentir a perturbação na Força pela destruição do pacífico planeta de Alderaan, natal da Princesa Leia. Era o primeiro disparo da Estrela da Morte, que assim experimentava o seu imenso poder. (A propósito disto e como aparte, vão ler isto e depois isto).

É mais ou menos como me sinto quando acabo de ler um livro, sempre uma tristeza maior ou menor pela extinção de um mundo, ainda mais se for um mundo rico de prazer ao lê-lo. "Leite Derramado" de Chico Buarque é rico de mais de um século de vidas e constroi-se e desconstroi-se numa cama de enfermo com uma agilidade confusa e bailarina. Não bastava o homem escrever as canções que escreveu, agora deu-lhe para romances do nível do "Estorvo", do "Budapeste" e deste "Leite Derramado", os três que li.

Leio-o quase em voz alta, quase como aqueles quase analfabetos que lêem em voz baixa, como quase ouvindo-se, só para gozar o prazer do ritmo nas suas palavras, os seus capítulos como canções, a sua história como uma dança interminável e ao chegar ao fim, podia recomeçar na primeira página. Invejo-lhe o estilo, a história, os olhos verdes, os sambas com sorriso, invejo-lhe quase tudo.

E agora, "Pedro Páramo" antes que a tristeza tropical ganhe raízes e para não perder este ritmo de andar a ler livros de um fôlego só.