Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

luís soares

Blog do escritor Luís Soares

Narcisismos.

A Net tem destas coisas, momentos em que vindas de várias fontes, nos chegam impressões sobre o mesmo tema. Ou se calhar eu é que estou particularmente atento a alguns temas, neste momento.

Tudo começou com o brilhante artigo do Jonathan Franzen de que já tinha falado aqui ("Liking Is for Cowards. Go for What Hurts." - nunca é demais continuar a citá-lo) que colocava de forma particularmente inteligente algumas questões sobre o papel da tecnologia no alimentar de um narcisismo preguiçoso. É claro que a tendência para o autorretrato como forma de expressão tem particular relevância na Internet, desde o mais ridículo e vulgar até projetos com pés e cabeça, como o do Alex Stoddard ou o do Jeff Harris, com os seus 4.748 autorretratos. Este vídeo aqui abaixo explica.

 

Jeff Harris: 4,748 Self-Portraits and Counting from We Know Music on Vimeo.

 

Toda esta questão dos autorretratos cruza-se também com a definição do que é ou não um artista, uma das questões implícitas na discussão da infame proposta 118. Se calhar a arte está na intenção, se calhar pode surgir por acaso, não sei bem e não tenho conclusões para partilhar, eu que não gosto de me retratar mas ponho necessariamente tanto de mim no que escrevo, nem sempre pelos caminhos mais óbvios.

A somar a isto tudo, recebi no e-mail um poema do John Ashbery que toma como mote o famoso "Autorretrato num espelho convexo" de Parmigianino (aqui abaixo). Retive a certa altura, este excerto: "The soul establishes itself. / But how far can it swim out through the eyes / And still return safely to its nest?" Salto de repente de novo para o texto do Franzen e pergunto eu, até onde podemos colocar a nossa imagem de nós na rede sem ela nos fugir?

Para completar todo este nó de relações, ontem a RTP 2 exibiu um documentário do ARTE sobre o artista plástico Anish Kapoor, que usa precisamente os espelhos convexos para provocar a reflexão (e que melhor palavra?) intuitiva e abstrata sobre a realidade e a nossa presença dela. Fica como exemplo, o maravilhoso "Cloud Gate" no Millennium Park em Chicago, abaixo.

 

Cloud Gate "The Bean" in Millennium Park from Craig Shimala on Vimeo.