Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

luís soares

Blog do escritor Luís Soares

Benjamin Button.

Estava a ver este video e a pensar na maneira como as pessoas opinam sobre o novo filme de David Fincher, sobretudo depois das nomeações para os óscares. Eu acho que o problema é não haver um óscar para a ternura, outro para a melancolia.

Posso concordar que não é o filme do ano, porque os filmes definem-se e discutem-se em categorias organizadas, o argumento, as personagens, os actores que as interpretam, a realização, os efeitos especiais, a banda sonora. Mesmo que queiramos escapar aos limites dos prémios, é assim que acabamos a discuti-los a maior parte das vezes.

Contudo, em todos os momentos deste longo filme, perpassa como um plano sequência, essa melancolia do tempo e dos seus desencontros, da velhice e da infância e desse tempo que pretendemos um planalto a que se chama idade adulta. "Pretendemos" é o termo chave aí.

Que momento é o momento certo para conhecer outra pessoa? Em que ponto do caminho? O que é ser novo ou ser velho? Uma sociedade que se "adolescentiza" a grande velocidade, por força do impulso da permanente insatisfação consumista, não pode ter respostas fáceis para estas perguntas. Parecemos todos, a certa altura, ter dezasseis anos e à espera que nos "vendam" uma identidade.

Quando Benjamin e Daisy finalmente caem nos braços um do outro, o filme ganha um tom quase kitsch, de um kitsch americano que me lembra a pintura de Edward Hopper. Mas eu fui daqueles que nunca achou o Edward Hopper um verdadeiro realista. Em que mundo existem verdadeiramente aquelas figuras solitárias entre luz, sombra e cores?

Incomoda-me um pouco, ter de discutir este filme como cinema, embora seja inevitável. Preferia discuti-lo como um poema da Sharon Olds ou da da Mary Howe. Ou mesmo um dos tais quadros do Hopper, um bailado da Pina Bausch.

Este filme de mitos e tempos e viagens, talvez não seja o filme do ano, mas não é definitivamente uma experiência que se deva perder.

Argumentos.

Interessa-me particularmente a escrita, no que ao cinema diz respeito, por todos os motivos e mais algum.

Dos nomeados para o Oscar de melhor argumento, suscita-me sinceras dúvidas o Wall-E. Sim, o filme é bom, mas a originalidade é quase toda visual e não me parece que seja da escrita que vem o valor da experiência envolvente que proporciona.

O contrário vale a pena dizer de "In Bruges" (na imagem) que, de um quase nada de história, desenha pela palavra um filme no "shithole" que é Bruges, quase uma jóia, com alguns dos melhores diálogos que passaram recentemente por uma sala de cinema. Os actores servem perfeitamente este brilhantismo e se houvesse um Oscar só para o diálogo, este estava garantido.

O "Slumdog Millionaire" é, por outro lado, um primor de construção, fazendo pleno uso do tempo e do espaço da Índia, do micro ao macrocosmos, com um aproveitamento inteligente de todos os mecanismos de envolvimento do espectador à sua disposição. É como se tudo na vida fosse, de facto, um concurso.

Já "O Curioso Caso de Benjamin Button" assume um tom narrativo que, se dispensarmos a originalidade da premissa do conto de F. Scott Fitzgerald, não é particularmente arrojado ou inovador. Está certamente mais bem servido de actores, de realização, de direcção de arte, do que de um argumento que seja particularmente penetrante.

Quanto ao "Milk" e ao "Frozen River", espero ter tempo este fim de semana para os ver e logo opino. Os outros a seu tempo.

Nomeados.

Os Oscares valem o que valem. São menos a celebração de uma arte e mais a celebração de uma indústria de entretenimento, mas... eu gosto muito de entretenimento. E por acaso até já vi dois dos filmes mais nomeados, "O Estranho Caso de Benjamin Button" e o "Slumdog Millionaire". Por muito que goste do Fincher e do seu fresco digital, continuo fã do Slumdog. A ver se vejo os outros...

Da Imagem da América.

Estava eu a ver o vencedor do Oscar para melhor filme de 1974 (esse grande ano) e logo no princípio há um plano breve e fantástico dos grandes veleiros passando pela Estátua da Liberdade no princípio do Século XX (esse século terrível).

Lembrei-me, porque sim, da Meryl Streep no princípio do "Angels in America", na forma de Rabi, falando das grandes viagens que já não se fazem, dos países "outros" e do país América (esse caos em permanente revolução).

Apercebi-me nesse instante dessa imagem da América como país do movimento, da viagem, da chegada e da partida, do coast to coast, do Monument Valley e dos desfiladeiros de cimento, um país todo feito de outros e do seu viajar. Lembrei-me também do "The Searchers" do John Ford.

E já viram o Benjamin Button? Sim, tem o seu quê de Forrest Gump, mas é mais uma vez um filme da viagem, no tempo e no espaço, com actores no seu melhor momento, com imagens deslumbrantes, com todo um país e a sua imagem como movimento de sedução.

Bom, podia ficar aqui o resto da noite, vamos ser honestos, mas no momento histórico em que Obama chega ao poder, ele também um viajante filho de viajantes, apeteceu-me divagar um pouco por este tema, sem grande destino.