uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian uma produção da Vende-se Filmes em co-produção com RTP
Uma proposta para a história do corpo a partir do percurso de uma das maiores companhias de dança portuguesas do século XX. O documentário de Marco Martins caminha a par do desenvolvimento da dança em Portugal e da história política, económica e sociocultural do país. UM CORPO QUE DANÇA é a história da vivência de um novo corpo, em transformação, que se liberta do fascismo, e de uma sociedade em mudança que se abre ao mundo exterior. A partir de imagens de arquivo inéditas e entrevistas a vários criadores e bailarinos acompanhamos o trajeto de uma companhia extraordinária, através dos movimentos e das palavras dos seus protagonistas, da sua génese no início dos anos 60 até à extinção em 2005.
Este ano não há Top 10s para ninguém. Este ano há uma lista alfabética de coisas que me maravilharam ao longo deste ano. Livros, discos, filmes, séries, concertos. Lembro-me destas, o que já quer dizer alguma coisa. Outras esqueci, a memória falha-me por vezes. Por ordem alfabética de autor:
Alfonso Cuarón - Roma - Se a memória fosse escrita, encenada, representada e filmada com perfeição virtuosística, era este filme. Um tratado sobre a arte do cinema. Com defeitos, claro, criticável, claro, mas isso haja liberdade para fazer sempre.
Bruno Nogueira (com Marco Martins e Ricardo Adolfo) - Sara - A melhor coisa que já se fez na ficção televisiva em Portugal. E ainda se consegue ver, creio. Do princípio ao fim, por favor.
Deborah Levy - The Cost of Living - Uma das jóias do ano, o confessional e diarístico escrito como deve ser. Já tinha gostado do "Hot Milk" e vou ler mais, estou certo.
Hanna Gadsby - Nanette - Sobre o humor, a gargalhada, o trauma, a liberdade e muitas outras coisas em que vale a pena pensar e sentir. Um tema para ler sempre mais.
Jon McGregor - Reservoir 13 - Pegar num género e ele ser outro género e deixar passar os anos anos e um livro ser isto.
Kore-Eda Hirokazu - Shoplifters - Vamos jogar um jogo de escondidas e descoberta com um amor profundo às nossas personagens. Foi merecida Palma de Ouro.
Laurie Anderson - Landfall (com Kronos Quartet)/ All The Things That I Lost In The Flood / ao vivo no Nimas - Um disco, um livro, um espetáculo, a perda, a poesia. Damn, girl.
LCD Soundsystem - Ao vivo no Coliseu dos Recreios - Transpirar a sério pelos melhores motivos com todos os meus amigos, mesmo os que não estavam lá.
Low - Double Negative - Quase sem querer, um disco que se entranhou. Fiquei surpreendido ao vê-lo em tantas listas de fim de ano, mas isso não me impediu de ouvir de novo.
Michael Ondaatje - Warlight - Volto sempre a ele e ele nunca me desilude, na intersecção entre história, indivíduo e poesia onde um dos corações da literatura vive.
Nick Cave - Ao vivo no Primavera Sound Porto - O momento, o local, o tempo, os artistas e, é claro, a música, no festival que prefiro, por estes dias.
Nick Drnaso - Sabrina - Tão longe chegou a chamada "novela gráfica". Nenhum preconceito deve impedir a leitura deste livro, num estilo tão limpo quanto os temas são graves, um relato minimal de um país caótico.
Paul Thomas Anderson / Johnny Greenwood - Phantom Thread - Les beaux esprits se rencontrent. Já tinha acontecido antes mas de novo aqui um filme, uma banda sonora, uma elegância que podemos destruir como nos apetecer.
Phoebe Waller-Bridge - Killing Eve - Espias, assassinas, mulheres. Um dos géneros mais antigos do audiovisual pode sempre ser baralhado sobre clichés e tornar-se um prazer.
Rosalía - El Mal Querer - Há gente que explica muito melhor que eu como este disco é musicalmente inteligente e viciante.
Ryan McGinley - Mirror, Mirror - Sempre a pensar, a sentir, a fotografar, rodeado de amigos e imagens, o Ryan mostra-nos o caminho.
Thom Yorke - Suspiria OST - Lá podia o Thom ficar atrás do Johnny. vivemos sobre os ombros de gigantes.
Thomas Adès - Concerto de piano com música de Leoš Janáček - Há sítios onde se volta, se é feliz e se descobre coisas que não se conhecia. A Gulbenkian é um deles.
Ao lado de André, nos degraus que rodeiam a fonte e a estátua de Eros, sentou-se um rapaz alourado com uma penugem como barba, vestido de preto e cinzento, uma fita no cabelo. Espreita-lhe a t-shirt que diz "Stay hungry! Stay foolish!". Fica a pensar nas palavras e como desenham um círculo perfeito, uma espiral, um remoinho, esfomeado, insensato. Terá de ser sensato para se conseguir alimentar, não? Olha-o insistentemente, espreita o caderno onde o rapaz começou a desenhar uma fachada do outro lado da rua, mas é ignorado. Não vale a pena meter conversa.
in "Virá a Morte e Terá Os Teus Olhos" (inédito)
in "Como Desenhar um Círculo Perfeito" (filme de Marco Martins)