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luís soares

Blog do escritor Luís Soares

Caicó

Joe Zawinul toca e Maria João canta Villa Lobos, com letra de Teca Calazans.

 

Caicó

Ó, mana, deixa eu ir
Ó, mana, eu vou só
Ó, mana, deixa eu ir
Para o sertão do Caicó

Eu vou cantando
Com uma aliança no dedo
Eu aqui só tenho medo
Do mestre Zé Mariano

Mariazinha botou flores na janela
Pensando em vestido branco
Véu e flores na capela

Maria João e Mário Laginha - Beatriz

E também a letra:

 

Beatriz
(Edu Lobo/Chico Buarque)

 

Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz

 

Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida

 

Olha
Será que ela é de louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida

 

Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

 

Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida

Areias de Laga

Em 1985, Maria João não tinha ainda feito o seu percurso de experimentação vocal que a levou de Portugal aos Estados Unidos, a África e ao Brasil, em termos vocais, claro. Maria João é conhecida por ter participado como professora num concurso de televisão musical, pelos álbuns a dois com Mário Laginha, pelas inflexões particulares do seu estilo vocal e pelo regresso, este ano, a alguns standards do cancioneiro americano (entre outras coisas) sob a forma de "Chocolate".

É, contudo, em 1985 editado o primeiro álbum que me permitiu o contacto com ela e o primeiro contacto com o Jazz português. Para quem não tenha reparado, pelo trabalho de gente como o Sassetti, o Laginha, Carlos Bica, o Carlos Martins, a própria Maria João, editoras como a Trem Azul, o Jazz português está de muito boa saúde e produz regularmente novos talentos.

Voltemos a 1985 e ao álbum "Cem Caminhos" editado pelo Quinteto Maria João que incluia já o Mário Laginha e o Carlos Martins. Além de alguns standards (um notável "My Favorite Things" e um delicioso "Lush Life"), do tema que lhe dá o título e outros que não vêm aqui ao caso, "Cem Caminhos" inclui, musicados e cantados, dois poemas de Eugénio de Andrade.

Ouvir poesia portuguesa em forma de jazz foi para mim, primeiro em cassete, depois em CD, uma epifânia, um momento de paixão único pela palavra e pela música. Boa sorte para quem quiser encontrar a música, não acredito que seja fácil, mas deixo aqui o poema do Eugénio de Andrade.

 

Canção Escrita nas Areias de Laga

 

No teu ombro respiro.

Belos são os navios,

altos, estreitos.

Feliz, o teu rosto no meu.

Que luz sobre o teu peito!

 

No teu ombro respiro.

Belas são as areias,

fulvas de verão.

Feliz, o meu rosto no teu.

Oh tão azul o mar na tua mão!