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luís soares

Blog do escritor Luís Soares

What Can't You Say?

Este texto é longo e muito, muito variado. Gente de todo os cantos do mundo (é redondo, eu sei) foi desafiada pelo casal maravilha Neil Gaiman e Amanda Palmer: "Writers, activists and public figures from around the world respond to NS guest editors Neil Gaiman and Amanda Palmer’s request to reveal the thoughts they leave unspoken."

Mas o Nick Cave, o Nick Cave eu não resisto a citar, sucinto e direto ao assunto:

The lovely thing about the unsayable is that it is unsaid. As soon as it is said, it is sayable and loses all its mystery and ambiguity. Art exists so that the unsayable can be said without having to actually say it. We cloud it in secrecy and obfuscation. The mind is free to roam and all things can be imagined, under the cover of darkness. How nice that is. The unsayable. How tired we are of having things explained to us. Having things said. How nice it is, when people just shut the fuck up.

E o cartoon é do André Carrilho.

Reino de silêncio.

radio-anechoic-chmaber-dtu-©-alastair-philip-wipe

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This is the radio anechoic chamber at Denmark’s Technical University (DTU). It opened in 1967, and is currently operated with the European Space Agency (ESA) for the testing of microwave antennas for use in satellites and mobile networks, among other things that I am not even going to try to explain. The idea is to minimise any reflections of microwaves, and the big foam spikes are filled with carbon and iron to absorb the radio waves. This tests the effectiveness of the antennas without any external intrusion, simulating the conditions of, for example, space. Many of these chambers are blue in colour, and according to Sergey Pivnenko, the professor in charge of the chamber, most of them were black in the old days – then some bright spark noticed that it was a bit depressing to work in a black spiky room all day, so the manufacturers of the spikes started to produce them in blue.

Alastair Philip Wiper

A palavra do ano - Silêncio.

Não me lembro de ano mais ruidoso que este.

Num ano de protestos, de vozes e contra vozes, de diálogos de surdos e manifestos, o ano do 1% e dos 99%, de ocupações, motins, megafones humanos, gritos, gás pimenta, primaveras árabes e terramotos japoneses, repressão e revolta, colapsos monetários, guerras mais visíveis ou invisíveis, mais ruidosas ou discretas, defeitos e excessos, escolho a palavra silêncio.

Parte importante do meu trabalho é a antítese do silêncio: promover e comunicar em áreas como a televisão, a música, o cinema, os jogos, usando o mais caótico e ruidoso dos meios, a Internet. Todos temas que já levaram vizinhos a bater a portas, pedindo para baixar o volume. Todos paixões (minhas também) que levam muitos a vociferar ao ataque ou em defesa, como é próprio das paixões.

A outra parte, contudo, tem muito a ver com o silêncio: ler e escrever. Um silêncio fictício, claro, há sempre vozes na cabeça de quem escreve e outras (as mesmas? Diferentes?) nas de quem lê.

Mais que tudo isto, contudo, sacode-me como espectador e consumidor a cacofonia de mensagens mediáticas, de previsões de Apocalipse futuro (financeiro? Económico? Social?), de análise de Apocalipse presente, o eco permanente da palavra crise que os media tradicionais e os media sociais amplificam à exaustão. Em alguns momentos o ruído é quase insuportável e os espaço para pensar inexistente.

Por isso escolho o silêncio. Não por não me indignar, não por não querer falar, não por não ter coisas para dizer, mas para encontrar esse mínimo espaço de reflexão e quem sabe prazer que as palavras que inventamos e que lemos nos conseguem dar.

Há, é claro, um reverso desta medalha. O silêncio individual a que nos recolhemos pode ser confundido com passividade, com indiferença, com anomia, demissão, abstenção. E é mesmo capaz que os tempos não estejam para ficarmos calados. Permitam-se apenas então o silêncio da reflexão, permitam-se o silêncio privado dos vossos prazeres, descubram o que têm a dizer mas depois façam ouvir a vossa voz. De todas as maneiras que conseguirem.

 

A propósito de silêncio, ainda duas notas. O filme com mais nomeações para os Globos de Ouro é um filme mudo, de nome “The Artist”, que muito me apetece ver. E em jeito de proposta, deixo aqui os famosos quatro minutos e trinta e três segundos de John Cage, dirigidos (?) por um maestro que já tive o prazer de ver ao vivo, Lawrence Foster. Quem não conhecer, que veja e logo vai perceber.

 

A imagem que ilustra este post foi feita no Egito por Goran Tomasevic para a Reuters.