Espécie de posfácio
Um posfácio não precisa de estar no livro, nem de imediatamente se lhe seguir. Mas costuma. Por isso isto é uma “espécie de”, com as palavras num ritmo incerto de brisa. Afinal de contas, é Outono.
Já falei aqui da poesia que se pode encontrar no livro ou do que podeia ser para ele uma banda sonora. São coisas que costumam constar de um posfácio, por isso falarei de outras.
Estou a ouvir “In Rainbows” dos Radiohead. Nas palavras de um grande amigo meu, eles são, de facto, “godlike”, percorrendo uma linha fina estendida entre uma boa canção e um ambiente claustrofóbico ou sonhador. A pureza do som é sempre um pouco suja ou reverberante, deixando na melodia um travo de perturbação.
Além do mais, com a mesma acuidade com que fazem música, estão a fazer mais um esforço por sacudir a indústria musical que aparentemente continua feliz na pose de avestruz. Interessante, para quem, como eu, tem passado os dias a ouvir falar do futuro da indústria do entretenimento.
“Serendipity” é uma palavra que, ao contrário da maioria, tem data de nascimento e autor conhecidos. Deriva de um velho conto de fadas persa (“Os Três Príncipes de Serendip”) e foi usada pela primeira vez por Horace Walpole, no dia 28 de Janeiro de 1754, numa carta ao seu amigo Horace Mann.
Deixei no avião “Divisadero” do escritor canadiano-cingalês Michael Ondaatje, por isso não posso citar algumas das suas frases brilhantes. Felizmente tinha já acabado de o ler. Posso dizer que o trabalho de minúcia sobre as frases e os sentimentos (sobretudo quando deles sabemos pouco falar) continua a ser o que me encanta em Ondaatje, nas suas personagens em busca de lugares e ligações que dêem sentido ao mundo.

O livro está composto no tipo de letra Sabon, que é também o usado em “Os Adultos” e “Em Silêncio, Amor”. Sabon é um tipo de letra de estilo clássico, com serif, desenhado pelo tipógrafo e designer alemão Jan Tschichold (1902-1974) entre 1964 e 1967. É baseado na tipografia de Claude Garamond (c.1480-1561), particularmente um espécime impresso pelo tipógrafo de Frankfurt, Konrad Berner. Berner era casado com a viúva de um outro tipógrafo, de nome Jacques Sabon. Daí o nome.
O Sabon itálico (que podem apreciar no topo deste blog) é baseado na tipografia de um contemporâneo de Garamond, Robert Grandjon.
Comprei este tipo de letra no site da Adobe há uns anos, um outro outono. É estranho ser Outubro e sentir a mesma luz que desce, a mesma brisa que refresca. Custou uns 20 dólares.