Corto a cidade sem ruído.
Corto a cidade sem ruído. Eu, sem ruído, apenas respiração e talvez, quase inaudível, a minha pele roçando o couro do volante, impressões digitais. Nos meus ouvidos o vento da noite, morno ainda, com medo que venha o Inverno. E também os ecos, outros carros, os azulejos nos túneis, um som que eu queria que fosse o restolhar das árvores escuras. As mesmas árvores que coam o sol de manhã em poeira e promessa de um dia melhor. Mas não, agora só esses ruídos, deslizando comigo e a voz de Clara. Casta Diva.Aperto um pouco mais os dedos no volante, deixo o pé descer um pouco mais no acelerador. Tão depressa, as árvores, os anúncios, a luz.