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luís soares

Blog do escritor Luís Soares

Vicky Cristina Barcelona

Quando gosto de um filme, tenho dificuldade em falar dele sem ser de forma fragmentária e impressionista. Assim seja.

Pergunto-me se "Vicky Cristina Barcelona" se teria chamado em tempos, num primeiro draft, "Vicky Cristina Juan Antonio" ou "Vicky Cristina Maria Elena". Talvez não, mas a verdade é que o nome da cidade assenta perfeito ao título e me deixa sorrindo baixinho.

Mal a voz do narrador começa a falar, sinto um incómodo notório por não ser a voz do próprio Woody Allen. Relembro o começo de "Manhattan", outro filme, outra cidade. Sem margem para dúvida a mesma voz, as mesmas fantasias, o memos amor das mulheres e das lugares e da cultura, o mesmo sentido de humor.

O filme tem um narrador presente porque é um conto, uma história eve de verão. "Deixem-me contar-vos das minhas férias em Barcelona", diria alguém com um copo de vinho à frente. E toda a gente ficaria interessada, à mera menção do nome da cidade - saltem dois parágrafos atrás e releiam.

E é tão divertido, Javier Bardem pedindo sempre a Penelope Cruz - desculpem, não os actores, as respectivas personagens - pedindo que ela fale inglês, "para que te intienda!"

Eu nomeava este guião. Por muito que seja um clássico Woody Allen, sem nos levar particularmente mais longe, por muito que tenha algum cliché no confronto Europa-América ou mesmo no olhar sobre a cultura da cidade, sobrevoado, há frases deliciosas, que mostram um mestre no topo da sua forma.

Pergunta Juan Antonio a Cristina, antes de a levar para a cama, "and what do you want in life besides a man with the right shorts?". Um pouco mais tarde, diz ela "if you don't start undressing me soon, this is gonna turn into a panel discussion". Muito mais tarde no filme, sentencia Maria Elena, "que es como una enfermedad, que no, que nunca le va a bastar con nada!". Mas talvez a palavra final seja de Vicky, "I'm quite delighted with the way things turned out."

E há a música, claro, ou não fosse um filme de Woody Allen, a guitarra, muito guitarra, de Paco de Lucia, Juan Serrano, Juan Quesada, Emilio de Benito, mas o que fica mesmo é Giulia y los Tallarini cantando "Barcelona es poderosa!".

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