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luís soares

Blog do escritor Luís Soares

A Sombra do Jacarandá

As pessoas de bem e mais dadas a acidentes já hão-de ter levantado o nariz e reparado que, como sempre acontece por esta altura do ano, os jacarandás estão em flor. É uma desculpa tão boa como outra qualquer para publicar um dos romances incluídos no Romanceiro Tradicional (versões factícias) da Editora Serrote. Ora vamos a isso:

 

A Sombra do Jacarandá

 

À porta da Dona Rita, nasceu um jacarandá,

quem pisar a sua sombra, logo se emprenhará.

 

Dona Rita a pisou e com barriga já está.

Seu pai está desconfiado, vem dizer-lhe um olá:

 

- Tu que tens Ritinha, filha? Andas com a cara má?!

- É uma dor de barriga, passa com um guaraná.

 

O pai manda vir doutores, dos melhores que p'rai há.

Todos confirmam à Rita: - Um bebé! Quem é o papá?

 

- Doutores não digam nada, que meu pai está meio gagá,

se ele descobre isto, manda-me p'ra Massamá.

 

Um dia passeia Rita, por aí ao deus-dará,

nasce enfim a criancinha, que sorte que ninguém está.

 

- Valdevinos, acudi-me! Despacha-te, anda cá!

Leva daqui a criança, ou meu pai nos matará.

 

Seu pai passava ali: - Valdevinos?! Estás por cá?

O que é que levas aí? Nessa capa, acolá?

 

- Não é nada, ó Dom Nuno, apenas maracujá.

- Eu adoro, dá-me um, por estas bandas não há.

 

Da capa de Valdevinos, solta-se um gugu-dadá.

Pai da Rita não é burro, ainda não está gagá:

 

- Que linda arvorezinha de flores roxas que ali está!

Deitaste-te à sombra dela? Foi bonita a festa, pá?

 

Agora casas com a Rita, podes chamar-me papá.

- Eu casar com Ritinha? Ó Dom Nuno, é p'ra já!