É um belíssimo conselho do senhor Irving Berlin e um standard do cancioneiro americano. Apareceu pela primeira vez no "Follow The Fleet" de 1936, pela voz de Fred Astaire, dançado pelo mesmo senhor Astaire e pelo seu par Ginger Rogers. A realização é de Mark Sandrich mas o que ficou para a história foi a música e a dança. E como é que um género supostamente tão leve podia conter tanta intensidade dramática?
Aqui abaixo, dois números do filme. Primeiro Harriett Hilliard na sua estreia em cinema cantando "Get Thee Behind Me, Satan" e logo de seguida, o dueto Astaire/Rogers com a canção que dá título a este post. E as letras, claro.
Get thee behind me, Satan I want to resist But the moon is low and I can't say "No" Get thee behind me
Get thee behind me, Satan I mustn't be kissed But the moon is low and I may let go Get thee behind me
Someone I'm mad about Is waiting in the night for me Someone that I mustn't see Satan, get thee behind me
He promised to wait But I won't appear and he may come here Satan, he's at my gate Get thee behind me Stay where you are It's too late
There may be trouble ahead But while there's moonlight and music And love and romance Let's face the music and dance
Before the fiddlers have fled Before they ask us to pay the bill And while we still Have the chance Let's face the music and dance
Soon We'll be without the moon Humming a diff'rent tune And then
There may be teardrops to shed So while there's moonlight and music And love and romance Let's face the music and dance Dance Let's face the music and dance
No meu tempo, que ainda é este mas já foi outro, e apesar da relatividade e outras invenções do Século XX, o tempo de cada um de nós era estreito e linear, movia-se como aquele anúncio da Xbox, disparado da barriga da mãe até aterrar numa sepultura ou forno crematório. Neste tempo de agora, que é ainda meu mas parece ser de mais gente, o tempo parece-me uma coisa cada vez mais confusa. Era fenómeno que se adivinhava, quando a Laurie Anderson perguntava no "Same Time Tomorrow" que eu tanto gosto de citar "is time long or is it wide?". Cheguei a fazer um trabalho de faculdade sobre isso, mas perdeu-se nos idos dos anos noventa, infelizmente.
Vem isto tudo a propósito de ter visto aparecer no Facebook este fim de semana, lamentos numerosos pela morte de Vasco Granja, acontecida no dia 5 de Maio, sim, mas há três anos, em 2009. Além de prova de curta memória, demonstra também o frenesim dos dedos na partilha, que clicam antes de ler, a data que seja. A notícia partilhada tinha dia, mês e ano no cabeçalho.
Não é exclusivo português e acontece com sensacionalismos variados. A primeira vez que dei por isso foi com a notícia da morte de um ator da série Harry Potter, do Guardian, acho. Notícia sobre algum secundário ou figurante até, mas que com um atraso de meses ou anos fez a ronda das redes.
Que o utilizador comum seja distraído, apressado, frenético parece-me normal, se bem que um pouco tonto. Que o mesmo aconteça a um jornal ou, para ser mais preciso, ao site de um jornal (ver a foto que ilustra este post) já é menos justificável. Mas quem pode censurar quem, neste tempo de pressas, velocidades, simultaneidades que é o nosso.
Cada vez me intrigam mais as possibilidades da lentidão como contrapoder. Talvez seja por isso que gosto ainda tanto de livros, com o seu tempo lento de apreensão e compreensão. Mas mesmo nos livros... bom, vou esperar para ver.
Above us, stars. Beneath us, constellations. Five billion miles away, a galaxy dies like a snowflake falling on water. Below us, some farmer, feeling the chill of that distant death, snaps on his yard light, drawing his sheds and barn back into the little system of his care. All night, the cities, like shimmering novas, tug with bright streets at lonely lights like his.
Lembra-me esta história da Laurie Anderson, que fazia parte do seu espetáculo "The Nerve Bible" e está no álbum "The Ugly One With Jewels"
The Night Flight From Houston
It was the night flight from Houston. Almost perfect visibility. You could see the lights from all the little Texas towns far below. And I was sitting next to a fifty-year old woman who had never been on a plane before. And her son had sent her a ticket and said: — Mom, you've raised ten kids; it's time you got on a plane.
And she was sitting in a window seat staring out and she kept talking about the Big Dipper and that Little Dipper and pointing; and suddenly I realized that she thought we were in outer space looking down at the stars. And I said:
— You know, I think those lights down there are the lights from little towns.