Da língua.
Há um pequeno rectângulo no mosaico de ilustrações da capa da última Monocle que menciona Portugal. Mesmo antes do final da revista, descobre-se uma reportagem em texto e imagem de umas 15 páginas (creio) sobre os Jogos da Lusofonia. É interessante perceber como, vistos de fora, os Jogos da Lusofonia são uma grande festa multicutural, parte de uma opção política de influência global baseada na língua.
Vista daqui, a política portuguesa para a língua respectiva é um caos político de ministérios que adoram embirrar uns com os outros e raramente se entendem: Cultura, Negócios Estrangeiros e Educação, só para mencionar os mais importantes. Perde-se mais tempo nas minudências e implicações com o Acordo Ortográfico (na maior parte dos casos com desconhecimento de causa) do que a discutir o que raio é essa coisa de "uma política da língua". E há sempre a proposta de fazer um museu e arrumar o assunto.
Não tenho nenhuma ideia mirabolante para a política da língua, mas algumas coisas parecem-me evidentes. Portugal, país de origem da dita língua, é cada vez mais o país com menos falantes da dita. Há sempre qualquer coisa de neo-colonial numa política transnacional da língua. A língua portuguesa é rica, vibrante, plena de invenção e mutação, nomeadamente ao nível da escrita, do romance, da poesia, da canção. Os media (os portugueses, os outros não sei) tratam a língua abaixo de cão, nem sequer a sabendo falar, muito menos escrever. É talvez consequência de um sistema educativo que se marimba cada vez mais na dita língua.
Eventos como os Jogos da Lusofonia, políticas abertas e cruzadas de emigração, promoção da cultura e da educação miscigenada, global e admitindo a diferença dentro da língua portuguesa, das múltiplas culturas que tocou, parecem-me ser o mais interessante, divertido e produtivo caminho de futuro. Entendam-se, por favor.