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luís soares

Blog do escritor Luís Soares

Banda Sonora para "Em Silêncio, Amor"

Sempre acreditei na porosidade das fronteiras que separam as artes e nunca escrevi sem imaginar as imagens acompanhando as palavras ou a banda sonora que poderia complementá-las.

Para além disto, a música sempre desempenhou um papel fundamental na minha vida, acompanhando-me em todos os momentos e sempre tentei manter os meus horizontes musicais o mais amplos possível.

Por tudo isto e alguns motivos íntimos (apenas discerníveis nas rodas dentadas invisíveis da escrita), a música sempre teve lugar de privilégio na minha escrita, começando por "Aquariofilia", em que a personagem principal é DJ, acabando em "Em Silêncio, Amor", onda a música e o silêncio são quase personagens adicionais na espiral narrativa.

Proponho, assim, do lado esquerdo deste blog, uma banda sonora possível para o livro. Obrigado ao Bruno, que me ajudou nas entranhas técnicas da coisa e alojou o som propriamente dito.

Algumas notas sobre cada faixa:

1 - Frederic (Frederico) Mompou - Musica Callada I - A primeira das variações da "música silenciosa" deste compositor catalão, um piano quase em silêncio, como seria de esperar a abrir esta banda sonora. Toca Javier Perianes.

2 - Bernardo Sassetti - Never Let Me Go - Além da canção ser genial e da interpretação em piano solo de Sassetti ser deliciosamente melancólica, dá o título a um livro perturbante de Kazuo Ishiguro do mesmo nome que li com uma mistura de angústia e prazer sobre as verdadeiras naturezas da amizade e da humanidade.

3 - Johann Sebastian Bach - Partita No. 2 - Sarabande - A Sarabanda que não sai da cabeça de Tom, no livro, interpretada aqui pelo talentoso Cedric Tiberghien, depois de, durante a escrita, me ter acompanhado na versão de Martha Argerich.

4 - Joseph Haydn - Sonata No. 53 - Adagio - O Adagio de uma das chamadas Bossler Sonatas de Haydn, interpretada ao fortepiano por Ronald Brautigam.

5 - Schubert/Liszt - Gretchen Am Spinnrade - Canção da autoria de Schubert a partir do "Fausto" de Goethe, escrita em 1814, que Liszt "reduz" para piano e é interpretada por Domingos António.

6 - Bernardo Sassetti - Alice - Capítulo II - Noite (II) - O assombroso tema que Sassetti compôs para a banda sonora do filme "Alice" de Marco Martins. É outra Alice? A mesma Alice? Que país das maravilhas é aquele subúrbio? Qualquer cidade...

7 - Tom Waits - Alice - Esta é a Alice de Carroll, na versão de Waits e de Bob Wilson, no espectáculo que passou pelo CCB e anos mais tarde viu a sua banda sonora editada em CD. É a voz de Tom Waits que se ouve, quando Thomas Wartet (piscadela de olho) entra na Livraria Branquinho.

8 - Jeff Buckley - Hallelujah - Muitos tentaram encontrar outro registo que não o coral-anos-80, para esta canção de Leonard Cohen, que mistura em poesia, um pouco de tudo o que nos faz humanos. Acredito que nenhum o fez melhor do que o precocemente falecido Buckley. Dá nome a um capítulo.

9 - Smog - Rock Bottom Riser - Smog é um dos projectos do singer songwriter Bill Callahan e o disco "A River Ain't Too Much to Love" um dos mais belos que ouvi. É de lá, esta canção.

10 - Arcade Fire - Ocean of Noise - É a minha favorita do segundo album e traz na sua letra o que parece ser o começo de uma história. Esta? "In an ocean of noise, I first heard your voice".

11 - The National - City Middle - É-me difícil escolher uma canção dos The National, mas esta começa com "Karen take me to the nearest famous city middle..." Vem desta letra, o nome de Karen Bechstein.

12 - Simon and Garfunkel - The Only Living Boy In New York - Apesar de sempre ter sido fã destes dois, a eles voltei por via dos Everything But The Girl e dos Kings of Convenience. Foi então que reparei que a letra começava com "Tom, take your plane right on time..."

13 - Zbignew Preisner - To See More - Tocada por Leszek Mozdzer, esta é uma das Ten Easy Pieces for Piano de Zbignew Preisner, compositor polaco que ganhou fama nas bandas sonoras geniais dos filmes de Krzysztof Kieslowski.

14 - Frederic Chopin - Balada No. 1 Op. 23 em Fá Menor - E ainda outro polaco, com Krystian Zimerman ao piano.

15 - Serguei Rachmaninov - Prelúdio No. 2 em Si Bemol Maior, dos Dez Prelúdios Opus 23. A fúria romântica dos russos, pelas mãos de Boris Berezovsky.

16 - Orlando Gibbons - "Lord Of Salisbury" Pavan and Galliard - Glenn Gould toca aquela que, segundo disse e creio que apenas uma vez, era a sua composição favorita para piano. A gravação é de 1971.

17 - Bernardo Sassetti - Musica Callada I / Piano Solo - Perdoem-me a insistência em Sassetti, mas aqui ainda por cima, voltamos ao princípio, à Musica Callada de Mompou, que tão brilhantemente resume a música que sinto atravessando esta história.

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