Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

luís soares

Blog do escritor Luís Soares

Requiem For My Friend

Já conhecia o Zbigniew Preisner das bandas sonoras dos filmes do Krzysztof Kieslowski, nomeadamente do notável "Azul", do tríptico "Três Cores", onde a personagem principal em ausência era precisamente um compositor e a música desempenhava um papel central. Eram também tempos da ambição de uma Europa unida, mas adiante.

Na primeira metade do séc. XX muitos foram os compositores europeus que levaram a sua ambição para Hollywood, empurrados pela guerra, mas poucos foram os que triunfaram e menos ainda aqueles que conseguiram construir uma carreira respeitável como compositores clássicos, desligados do grande ecrã. No percurso contrário, do compositor prestigiado a emprestar a sua arte ao cinema, são também raros os exemplos. Recentes, lembro-me do Philip Glass, com a notável banda sonora do "The Hours", para citar só um. Mas o Glass já é também um compositor mais pop que a maioria.

Apercebi-me há uns anos que o senhor Preisner ia conseguindo trilhar os dois caminhos (o da peça clássica e o da banda sonora), com o "10 Easy Pieces for Piano", de que gosto muito, mas a ambição do "Requiem For My Friend" tem toda uma outra escala e foi um triunfo para o polaco. Está dividido em duas partes, a primeira seguindo os nove movimentos tradicionais do Requiem, a segunda, uma resposta, de nome "Vida." A estreia aconteceu em Varsóvia a 1 de Outubro de 1998.

A ideia surgiu com Kieslowski, conta Preisner: "Tivemos a ideia conjunta de criar um concerto contando uma história de vida. A estreia estava planeada para a Acrópole em Atenas, um grande evento, um híbrido entre uma ópera e um Mistério medieval. Krzysztof Kieslowski seria o encenador, Krzysztof Piesiewicz o responsável pelo guião e eu comporia a música. (...) Mas foi a vida a autora de um final diferente: Krzysztof Kieslowski morreu a 13 de Março de 1996. A primeira parte é uma despedida para o meu amigo. Dedico-lhe esta música".

Ora a isto tudo eu cheguei por via do brilhante "A Árvore da Vida" de Terrence Malick, a que chamei noutro sítio um requiem americano. A peça abaixo é precisamente a Lacrimosa de Preisner que aparece na banda sonora do filme. A voz é da soprano polaca Elzbieta Towarnicka.



Um Requiem americano

"A Árvore da Vida" de Terrence Malick é obra de um génio louco. Digo isto no melhor sentido possível e com um tom elogioso de admiração.

Lembro-me de ler há algum tempo numa entrevista de António Lobo Antunes que os escritores e, por extensão, os criadores em geral, caminhavam sempre na perigosa fronteira do lugar comum, correndo o risco de resvalar e cair para o lado de lá. Eu sei, atormenta-me. A verdade é que quando isso não acontece, quando se caminha na fronteira do reconhecimento sem cair na banalidade, o resultado é geralmente brilhante. É isso que acontece no vencedor da Palma de Ouro de Cannes deste ano.

Das primeiras imagens às últimas, Malick, como é normal na sua escassa mas famosa obra cinematográfica, alterna entre um tom poético em que imagem, voz off e banda sonora se servem mutuamente com pedaços da história de uma família, dos subúrbios americanos, dos seus sonhos nos anos 50 e 60, do fazer e desfazer desses sonhos, numa mise en abyme que nos leva do universo em nosso redor ao infinito particular (obrigado Marisa Monte).

A passagem da infância à idade adulta é retratada como poucas vezes em toda a sua incerteza e crueldade nos grandes planos do estreante Hunter McCracken, a natureza indízivel das relações familiares em que a dureza e o amor fazem parte de uma mesma nuvem de incompreensão e ligação. Territórios que a todos nos tocam, mesmo que não naquele lugar e naquele tempo. E depois há Brad Pitt e Sean Penn, masculinos, duros e frágeis, brilhantes, tanto como Jessica Chastain.

Fiquei a pensar nos subúrbios dos Arcade Fire, nos meus subúrbios, no Requiem de Berlioz, no piano e órgão de Bach, numa sinfonia de Brahms, na vida, na morte, no amor, naqueles actores que se entregam à câmara sempre circulante de Malick, nas texturas, nas árvores todas ao longo do filme, nas sombras nos vários chãos, na água e no sol, tudo aquilo de que é feito o filme.

Vou ver outra vez. (Trailer e "Agnus Dei" do Requiem de Berlioz aqui abaixo).





The Thin Red Line - Abertura

What's this war in the heart of nature ?

Why does nature vie with itself?

The land contend with the sea?

Is there an avenging power in nature? Not one power, but two?

l remember my mother when she was dying. Looked all shrunk up and gray.

l asked her if she was afraid. She just shook her head.

I was afraid to touch the death l seen in her.

I heard people talk about immortality, but I ain't seen it.

l wondered how it'd be when l died. What it'd be like to know that this breath now was the last one you was ever gonna draw.

l just hope l can meet it the same way she did. With the same... calm.

Cos that's where it's hidden - the immortality l hadn't seen.

A Árvore da Vida.

Parece que o Terrence Malick, realizador de um ou outro dos meus filmes favoritos ("The Thin Red Line" por exemplo), está já em pós-produção do novo "Tree of Life", com o recém-oscarizado Sean Penn e Brad Pitt (que substitui no elenco do filme o falecido Heath Ledger). O argumento parece girar em torno dos temas habituais do realizador, a interrogação da américa, do tempo, da moralidade, procurando ir mais fundo do que a habitual superfície da película. Como com todos os filmes de Malick, a expectativa é grande. Para mim, pelo menos.

What's this war in the heart of nature?

What's this war in the heart of nature?
Why does nature vie with itself?.
The land contend with the sea?
Is there an avenging power in nature?
Not one power, but two?

I remember my mother when she was dying.
Looked all shrunk up and gray.
I asked her if she was afraid.
She just shook her head.
I was afraid to touch the death I seen in her.

I heard people talk about immortality, but I ain't seen it.
I wondered how it'd be when I died.
What it'd be like to know that this breath now was the last one you was ever gonna draw.
I just hope I can meet it the same way she did.
With the same... calm.

Cos that's where it's hidden - the immortality I hadn't seen.