De Um Instante a Outro
Vasco Pimentel toca "De Um Instante a Outro" de Bernardo Sassetti
Vídeo integrante do ciclo celebrador do 50º aniversário do nascimento de Bernardo Sassetti, lançado pela Casa Bernardo Sassetti nas suas redes sociais.
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Vasco Pimentel toca "De Um Instante a Outro" de Bernardo Sassetti
Vídeo integrante do ciclo celebrador do 50º aniversário do nascimento de Bernardo Sassetti, lançado pela Casa Bernardo Sassetti nas suas redes sociais.
Bernardo Sassetti Trio ao vivo nas Lux Jazz Sessions em 26 de Dezembro de 2007 com Bernardo Sasseti (piano), Carlos Barretto (contrabaixo), Alexandre Frazão (bateria)
Talvez - Tito Paris e Bernardo Sassetti
"Aqui fica o tema principal do filme ALICE de Marco Martins, 7 anos depois, gravado no piano mais equilibrado que existe actualmente em Portugal. Tal como escrevi em 1994, "Lisboa, a cidade de luz, como a conhecemos, assim como a imensidão dos seus habitantes, ganham aqui uma nova dimensão, trágica e sombria - figuras humanas caminham, obstinadas, em aparentes gestos de rotina, indiferentes a tudo o que as rodeia. Assim é Lisboa neste filme, cenário por onde Mário se movimenta à procura de Alice, misteriosamente desaparecida. Já ninguém acredita que é possível mas ele não desiste. Também a solidão é assim retratada: numa grande cidade, aqueles que nos estão mais próximos são, por vezes, os últimos a acreditar. (...) A música de ALICE representa um passo importante na forma como agora olho para a composição musical. Aos meus olhos, mudou também a cidade onde nasci."
Lembrei-me de repente que no Regresso a Barcelona existe um Cafe Mompou que tem esse nome em honra ao compositor catalão Frederico Mompou, compositor da série Musica Callada de que o Bernardo Sassetti toca o nº 1 no Nocturno, primeiro numa versão em trio e depois a solo.
No livro, o Café Mompou cruza-se de alguma forma com o Café Muller da Pina Bausch e com a Traviata. Invenções. Comprei depois um CD só com a música de Mompou, tocada por Javier Perianes, mas foi por causa do Sassetti que o café ficou com esse nome.
Aliás quando sugeri uma banda sonora para Em Silêncio, Amor, já lá estavam o Mompou e o Sassetti.
Aqui abaixo, uma curta dirigida por Mike Lubik inspirada por essa mesma composição. Toca Jenny Lin. Ainda por cima começa num cemitério.
"Josef mal tocara na sua água com gás e tentava catalogar aquela energia. Um desfiladeiro intransponível de nervos e medo? Um principiante sem tiques de estrela ou um puto com a mania? Um miúdo sem hipóteses? Josef em frente à porta do edifício do jornal noutro Outono, máquina na mão, a querer um estágio. Fernando e Miranda a entrar na universidade, longe, longe de Josef, de Hannah. Anos e anos a passar. Meio século de Josef Leitz. Felix poderia fechar o círculo, ser um círculo perfeito?"
(...)
"A hora é a do crepúsculo, há um azul muito azul no céu, um azul de que Miranda se lembra com a nitidez imprecisa de uma cor, sem contornos, sem foco, apenas a cor. Turquesa? Ametista? Que sabe ela das cores? Está com Fernando de costas, em silhueta, de mão dada. Olham as luzes, olham um círculo perfeito, a roda gigante. Onde foi?"
(...)
"Ao lado de André, nos degraus que rodeiam a fonte e a estátua de Eros, sentou-se um rapaz alourado com uma penugem como barba, vestido de preto e cinzento, uma fita no cabelo. Espreita-lhe a t-shirt que diz "Stay hungry! Stay foolish!". Fica a pensar nas palavras e como desenham um círculo perfeito, uma espiral, um remoinho, esfomeado, insensato. Terá de ser sensato para se conseguir alimentar, não? Olha-o insistentemente, espreita o caderno onde o rapaz começou a desenhar uma fachada do outro lado da rua, mas é ignorado. Não vale a pena meter conversa."
in Virá a morte e terá os teus olhos
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"Antes de conhecer Elisa, eu era um descrente das relações, um libertino, perseguindo mulheres à bolina, conforme o vento da minha vontade. No dia em que pela primeira vez a vi, aliás, ia levado pelo meu olfacto atrás de um perfume. Não era um perfume qualquer, era o mesmo de uma rapariga loura, alta, quase tão alta como eu, por quem eu tivera um fraquinho imenso (perdoem me o oximoro) uns meses antes. Tão imenso que destruíra uma precária paixão assolapada de três semanas com a rapariga anterior (uma baixinha e viçosa). E o perfume ia com ela onde ela ia. No quarto onde dormia, então, era uma nuvem intoxicante, um território inóspito de sensualidade, convidando-me à colonização.
Perseguia eu o perfume dessa antiga conquista que se fora no fim do Inverno quando, por aquela porta entreaberta, sentada ao piano, estava Elisa. Logo se me entupiu o nariz. Até hoje é para mim um mistério: consigo marcar com exactidão esses dois segundos antes do início da Sarabanda como o momento em que me apaixonei. É estranho, convenhamos, nem a cara lhe tinha visto.
Foi como uma invasão, como se Atila o Huno, Alexandre o Grande, o próprio Saladino tivessem sitiado o meu coração, preparados para o acrescentarem ao seu império, uma jóia na coroa, para sempre. Em 4 de Julho de 1187, Saladino arrasou o Reino de Jerusalém e passou a fio de espada todos os seus habitantes. Em 4 de Setembro de 1975, Elisa da Ponte arrasou o Reino de Thomas Wartet e para sempre lhe trespassou o coração.
Quando Elisa começou a tocar, um ruído cessou. O mundo moveu se mais devagar, os pássaros bateram as asas com lassidão e as ondas enrolaram se com mais cuidado, medo de partir se em vez de desfazer se em espuma. O fumo conteve se nos escapes, os carros sustendo a respiração, e todos os apressados da terra pisaram mais devagar e com mais cuidado. Assim são as ilusões do amor, mesmo quando ele próprio não é ilusão."
Disse a uma amiga há tempos que se algum dia ganhasse o Euromilhões, contratava o Bernardo Sassetti para fazer a banda sonora da minha vida. Era só uma brincadeira para exemplificar a minha admiração por ele, profunda, sincera. Preferia que a notícia da sua morte fosse um erro, preferia que este ano ou para o ano houvesse disco ou discos novos, mais uma ou duas bandas sonoras, concertos, aventuras. Preferia ter música nova dele para me acompanhar em passeio pela cidade, enquanto escrevo, enquanto acordo e adormeço, enquanto conduzo e penso. Preferia a inspiração de o poder ouvir. Fica o que fez. Fica o que ouvi e vou voltar a ouvir vezes sem conta. Mas estou inconsolável.