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luís soares

Blog do escritor Luís Soares

A imagem do ano.

Pediram-me no SAPO um contributo para O Melhor de 2015, debaixo da secção "Imagem do Ano" e escolhi a imagem abaixo. E justifico-me.

GÉRICAULT_-_A_Jangada_da_Medusa_(Museu_do_Louvre,

"A Jangada da Medusa", quadro de Géricault que escandalizou a França de oitocentos, retratando um naufrágio histórico (o da fragata Medusa) em que a escassa dezena e meia de sobreviventes até ao canibalismo teve de recorrer para se manter viva. É, para mim, uma boa imagem (simbólica) do ano, num ano de muitos naufrágios e mortes, no Mediterrâneo, claro, mas também nas ruas de Paris e de Bruxelas, no crescimento do medo, nas dúvidas sobre a herança e o futuro da Europa.

"Spectre": Este Bond é muito mais Bond

Dei uma contribuição ao SAPO Mag sobre o novo Bond e foi assim:

 

“Spectre” parece um Bond para acabar com todos os Bonds. Pisca (bastante) o olho aos fãs de longa data da série de filmes, ambicionando ser mais espetacular do que nunca antes.

bond_real.jpg

Locais exóticos? Tem. Vai do México a Londres, Roma, Áustria, Tanger e de volta a Londres. Bond Girls? Tem. E não propriamente novatas a começar mas sim Monica Belluci e Léa Seydoux. Vilão maníaco? Tem. Christoph Waltz, outro grande ator, já oscarizado. Carros rápidos? Sim, claro, em perseguições por Roma, um Aston Martin exclusivo e um Jaguar de sonho. Explosões? Mais que muitas, algumas das maiores jamais vistas em ecrã gigante.

E aquele plano-sequência de abertura no México, à Orson Welles a transformar-se em combate em helicóptero em vertigem permanente? Bond is back.

“Spectre” enche as medidas dos fãs antigos, integra um pouco mais os fãs mais recentes e espera conquista ainda mais espectadores para os filmes de Bond. Os primeiros resultados de crítica e bilheteira parecem anunciar o sucesso da aposta e a continuação do mais duradouro fenómeno de entretenimento da história do cinema.

A estreia mundial do primeiro filme da saga Bond, “Dr No”, ocorreu a 5 de Outubro de 1962, no mesmo dia em que era lançado o primeiro single dos Beatles, “Love Me Do”. Começavam os anos 60, a Inglaterra recuperava aos poucos pelo menos parte do seu lugar cimeiro na cultura popular mundial.

A antestreia de gala de “Spectre”, o vigésimo quarto filme em que James Bond é herói e protagonista aconteceu na segunda-feira 26 de Outubro de 2015 no Royal Albert Hall, numa superprodução que fechou ruas para estender o tapete vermelho à passagem de elenco, equipa, convidados e príncipes, com gente à espera de um autógrafo junto às grades desde o sábado anterior.

Era provavelmente possível fazer uma história cultural pop do Reino Unido no pós-Segunda Guerra através dos já 53 anos de filmes Bond e mesmo antes disso, com os romances do espião Fleming que se idealizou em 007.

Os filmes Bond ajudaram a definir em parte aquilo que hoje domina grande parte da produção cinematográfica mundial, o conceito de “franchise”: obedecem a um conjunto mais ou menos vago de regras em relação a ambientes, personagens, sequências do guião, “gadgets”, sentido de humor, “bond girls”, “product placement”.

Depois há os atores, de Sean Connery a Daniel Craig, cada um querendo trazer algo de si para o papel. A mudança de protagonista foi acontecendo por motivos vários e trouxe aos filmes personalidades próprias. Daniel Craig reinventou um Bond mais moderno, mais inseguro mas também mais violento, com menos caricatura e “brinquedos”. Os fãs de longa data franziram o sobrolho mas o sucesso foi real. E agora em “Spectre”, Craig volta a parecer um Bond mais Bond.

“Skyfall” ultrapassou os mil milhões de dólares em receitas globais e ganhou um Óscar pela melhor canção onde antes a série só tinha conseguido estatuetas pelos efeitos visuais e sonoros. O realizador, Sam Mendes, era também ele já um oscarizado. A fasquia foi colocada mais alta que nunca.

Vá, vão ver “Spectre” e deliciem-se. Depois perguntem o que pergunta qualquer fã de Bond. E agora, como vai voltar 007?

 

Olha os parabéns!

Dez anos em anos-internet, que são uma coisa assim parecida com anos-cão, é quase um século. É verdade que sou da casa e por isso escolhi os Blogs do SAPO mas este post serve sobretudo para dizer que não me arrependo e aconselho vivamente. Ah e para dar os parabéns! Porque os Blogs do SAPO fazem dez anos hoje. Venham mais dez com a mesma qualidade.

Inovação e televisão.

O SAPO faz hoje 17 anos (para o ano já vota) e isso pareceu-me um bom motivo para voltar ao tema da televisão. Hã? Como? SAPO e televisão? Mas o SAPO não é um portal internet e uma marca de acesso ADSL e Fibra? É mas é bem mais que isso. Um olhar de relance para a imagem abaixo, uma timeline das remodelações de fundo da homepage do SAPO, mostra uma desaceleração nos últimos anos. Essa desaceleração não aconteceu por o SAPO ter deixado de inovar, mas porque a Web passou a ser apenas uma parte das muitas áreas em que o SAPO trabalha. E uma delas é a televisão.

A Zon é a principal concorrente da PT no negócio de televisão por subscrição, onde opera com a marca MEO. Sim, a qualidade de imagem pode ser melhor ou pior de um lado e de outro, variando de canal para canal, o serviço de apoio ao cliente pode ter histórias maravilhosas e outras horríveis, as instalações nem sempre correm bem e a marcação de um lado ao outro em termos de preços é feroz. Em todas estas coisas vai reinando um certo equilíbrio. Onde se faz a diferença? Conteúdos e novas funcionalidades.

A Zon anunciou recentemente um novo serviço para clientes com acesso fibra que é, na prática, um serviço de catchup tv para a última semana para 77 canais (não sei quais). O Meo vai ter a Bola TV, a Correio da Manhã TV e de novo o Secret Story com canal exclusivo e aplicação interactiva. Business as usual. Então onde entra o SAPO?

O SAPO entra do lado da inovação tecnológica, entra no lado da cultura, da atitude, da capacidade para inventar coisas novas que, no MEO, fazem a diferença. Dois exemplos nos vídeos abaixo.

 

 

Primeiro estranha-se...

Começo este post por um disclaimer. Trabalho para a Portugal Telecom, dentro da equipa do Portal Sapo, por isso é natural que a minha visão não seja muito imparcial. Dito isto, o começo deste post devia ser "o Sapo tem uma homepage nova".

É a coisa mais fácil do mundo fazer um blogue, hoje, mandar umas bocas no Facebook ou, melhor ainda, mandar umas bocas sobre as bocas alheias. O Twitter limita-nos logo à partida a 140 carateres e o Instagram propõe uns filtros para embelezar qualquer foto. Estar presente no espaço digital não custa nada.

A não ser que se queira inovar, que se queira ter qualidade e atualidade, que se queira chegar ao maior número de pessoas possível, que se queira liderar o mercado durante anos a fio, que se queira construir um ADN de inovação e superação dos limites que nos impõe o país, a tecnologia, a concorrência, o mercado. É claro que o Sapo não é perfeito, longe disso; é também claro que tem, por trás de si, o peso da Portugal Telecom, mas vamos por partes.

A Portugal Telecom é uma das maiores empresas portuguesas, ambicionando (e conseguindo) ser líder nas telecomunicações em todos os segmentos, fixos e móveis, com operações nacionais e internacionais, milhares de funcionários, cotação em Nova Iorque.

O Sapo é uma startup que a PT comprou (a um comprador anterior) nos anos 90. Não foi absorvida no resto do negócio, não perdeu o seu carisma, valorizou-se como marca, contribui com inovação para toda a empresa, inventa novos serviços, novos produtos, novas maneiras de estar no mercado de maneiras diferentes. Pode ser apenas uma percentagem muito pequena do volume de negócios total, mas a sua pegada está em toda a empesa.

O Sapo é o único site em Portugal que oferece todas as ferramentas para uma presença online de qualquer criador: vídeos, fotos, blogs, páginas, canais na televisão até - sim, foi no Sapo que nasceu o Meo Kanal.

E por fim os conteúdos. O Sapo tem quase tantos parceiros como trabalhadores. Parceiros de grande dimensão no mundo dos conteúdos, como o Expresso, a Visão, a SIC, o Diário Económico, a Lusa, o Grupo Renascença, a Blitz, a Time Out. Parceiros mais pequenos como a Sercultur, o Palco Principal, a Estrelas e Ouriços, as Produções Fictícias. Bom, chega de exemplos. Para além disto, o SAPO tem uma redação de jornalistas, equipas de vídeo e fotografia, projetos que estimulam os novos valores criativos a mostrar-se, uma rede de bloggers ímpar, todos contribuindo para que quem queira saber como vai Portugal, vá ao Sapo.

Tudo isto porque a partir de hoje, o Sapo tem uma homepage nova e sim, primeiro estranha-se. Ocupa mais ecrã, é mais comprida, tem fotografias maiores, uma maior diversidade de conteúdos, ligação ao Facebook, as sessões de cinema, a programação da televisão, receitas, horóscopo, tempo, um mundo. É uma espécie de milagre, a forma como a equipa editorial, os programadores e a equipa de usabilidade conseguiram fazer crescer esta página em todas as dimensões. E ainda por cima adapta-se ao ecrã que estivermos a usar para a consultar, seja um smartphone, um tablet ou um computador.

Sim, é diferente e a diferença a princípio, como dizia o outro, estranha-se. E foi lançada hoje, por isso está naturalmente sujeita a afinações e um processo de melhoria contínua, mas vão lá ver que vale a pena.

Para de te queixar e faz alguma coisa.

O portal SAPO estreou hoje um projeto de que muito me orgulho em que estive pessoalmente envolvido. Chama-se "Para de te queixar e faz alguma coisa" e tem direção da Vera Moutinho, sendo que a cara mais visível do mesmo é a Xana Alves, que entre outras coisas faz rádio.

Primeiro um comentário ao título. Quando o nosso primeiro nos começou a chamar piegas, lembrámo-nos de uma frase que o Miguel Gonçalves Mendes, realizador do "José e Pilar", dizia nas apresentações públicas do filme e que, mais palavra menos palavra, era precisamente "Parem de se queixar e façam alguma coisa". Só para dizer que fazer alguma coisa pode ser muita coisa, pode ser fazer greve, manifestar-se, atirar cadeiras ou cocktails molotovs, fazer programas na Internet, escrever livros, fazer filmes, criar empresas, compor música, pintar paredes... inventem.

Toda a gente tem direito a queixar-se, claro. Mas mais que isso, toda a gente tem direito a agir, dar consequência às palavras, a não se limitar a rir do humor que usamos para lidar com as desgraças nacionais. Queixar-se, fazer um post no facebook, um like num cartoon, ter uma conversa de café, é fácil. Transformar o protestos em ação ou, mesmo quando não é protesto, pura e simplesmente agir, é mais difícil.

A nossa primeira "queixinhas" faz música mas já fez muitas outras coisas. É a Ana Bacalhau dos Deolinda. E se calhar o que ouviu mais vezes foi para "não se meter nisso da música". Das várias coisas que diz, gostei muito quando ela explicou que o curso superior, não tendo nada a ver com música, é uma educação para a vida. Mas vá, vejam aqui abaixo a conversa em formato curto e, se vos interessar, depois a outra mais completa.

 

Clip clip clip.

O movimento foi primeiro democrático e anárquico, fazendo uso de plataformas abertas e tecnologias de fácil utilização, mas todos os grandes detentores de conteúdo audiovisual estão agora a saltar para o online como plataforma de distribuição e rentabilização dos seus vídeos.

É claro que o valor dos catálogos entra de novo aqui em jogo. O New York Times publicou um artigozinho interessante sobre esse trabalho que é percorrer arquivos, bibliotecas de vídeo em busca de segmentos, clips, pequenos apontamentos, susceptíveis de ser consumidos como snacks online e consequentemente gerar receitas.

O artigo em causa usa o Discovery Channel como exemplo e é um bom exemplo: a maior parte é produção própria, os direitos estão garantidos e muito do conteúdo é intemporal. Não é por isso que deixa de ser necessário ter uma equipa a revê-lo e editá-lo para publicação online.

Portugal é um país mais gerido a benchmarking - vulgo, imitação - do que inovação, o que quer dizer que esperamos para ver antes de avançar, na maior parte dos casos. Não surpreende, por isso, que não haja ainda uma atitude de valorização coerente e consequente dos patrimónios audiovisuais que por cá existem - do ANIM / Cinemateca aos canais de televisão, com particular destaque para o arquivo da RTP.

A mensagem contudo é de esperança. No SAPO, na RTP, na Impresa, com maior e maior dificuldade, com maior ou menor inteligência editorial e comercial, há gente a lutar para mudar este estado de coisas.