A Portugal Telecom (onde trabalho) contém, como diria o poeta, multidões. Entre essas multidões estão várias pessoas que editaram já livros de vários tipos. Nem todos serão escritores (eu próprio tenho dificuldades com a palavra) mas existem. Além disso, existem também, em espaços da empresa quatro bibliotecas para funcionários onde estes podem requisitar livros - são os Bookpoints.
Neste contexto, fui entrevistado a propósito de "Virá a Morte e Terá os Teus Olhos", de que podem fazer download no link mesmo mesmo aqui ao lado esquerdo. Fica aqui abaixo um vídeo e o texto da dita entrevista, conforme o meio que mais vos agradar.
Como se descreve enquanto escritor? Sou um escritor em part-time porque faço outras coisas. Não vivo da escrita, nem a minha vida é 100 % dedicada à escrita. Intrinsecamente enquanto escritor, diria que sou um escritor de temas mais urbanos e contemporâneos. Há uma série de temas que perseguem os meus livros e que têm que ver com a identidade e com aqueles momentos na vida em que as pessoas têm de decidir o que são, o que não são e o que faz delas aquilo que elas são.
Quando e como nasceu o gosto pela escrita? Diria que escrevo desde que sei, isto é, acho que mal aprendi a ler e a escrever comecei a escrever histórias. Por volta dos 10 anos já tinha pequenas histórias escritas e depois comecei a escrever mais a sério durante a faculdade. Foi nessa altura que as minhas histórias começaram a ganhar alguma coerência e consistência e a transformarem-se em livros.
Partilha o gosto pela escrita e tecnologia. Como concilia as duas áreas? A escrita e a tecnologia estão cada vez mais a cruzar-se e uma apanhou a outra algures no percurso. Continuo a gostar muito de livros em papel e a ser um fetichista do livro, mas acho que a tecnologia está a ter um papel fundamental na distribuição dos livros e na forma como as pessoas leem, compram e usam os livros. E já tinha um papel fundamental na maneira como os livros são escritos. Desde que existem processadores de texto tornou-se mais fácil corrigir e a própria escrita tornou-se mais fluida e também mais fragmentada. Diria que a escrita e a tecnologia acabaram por se cruzar facilmente na minha vida.
Tem alguma fonte de inspiração? A inspiração surge em qualquer momento. Geralmente, surgem-me frases em momentos inconvenientes como nos transportes públicos ou quando vou dormir. Mas acho que não há uma única fonte de inspiração. É tudo!
Quais são os seus escritores preferidos? São bastantes. Gosto de ler e leio muito. É difícil enumerar escritores preferidos, mas leio mais literatura anglófona e, portanto, escritores ingleses e americanos. Leio todo o tipo de literatura e gosto muito de Don DeLillo, Richard Ford e Jonathan Franzen, por exemplo.
Fale-nos sobre as cinco obras que produziu? O primeiro livro que escrevi foi o Aquariofilia, um livro mais de fim de adolescência e princípio da idade adulta com temas muito urbanos. É um livro que tem alguns elementos mais autobiográficos, embora todos acabem por ter. O segundo Os Adultos foi uma sofisticação desses temas e é o livro mais longo. Em reação a isso, Em Silêncio, Amor é um livro mais curto e simples. É o primeiro livro que não se passa em nenhuma cidade com nome específico, mas continua a ter os mesmos temas e começa a expressar também o meu gosto pelas artes e pela cultura, nomeadamente pela literatura. Nos dois livros seguintes - Regresso a Barcelona e Virá a morte e terá os teus olhos - há temas específicos, precisamente culturais. O primeiro é muito à volta do tema da música e o segundo em torno da fotografia.
Tem optado pela publicação dos livros também em formato online? A opção pelo formato online é cada vez mais natural, quer em complemento ao papel, quer em edição exclusiva. Acho que a edição em eBook está nos seus primórdios, naquela fase em que emita o papel. Os livros leem-se da mesma maneira, os formatos são semelhantes e as pessoas querem ter a noção de que existem as páginas. Acho que são formatos que vão evoluir e vamos descobrir novas maneiras de escrever e de ler. Portanto, é natural para mim evoluir para esses formatos. Por outro lado, foi também uma opção que teve que ver com circunstâncias específicas - a não edição do último livro em papel -, por isso, decidi editá-lo, ser eu o meu próprio editor e divulgador e ver o que acontece. Acho que faz parte do futuro. O livro não vai morrer em papel mas vai existir de outras formas.
Pode fazer um pequeno resumo do livro Virá a morte e terá os teus olhos? O Virá a morte e terá os teus olhos é uma biografia inventada de um fotógrafo. A história percorre grande parte do século XX, sobretudo a 2.ª parte, onde acho que a fotografia e todas as artes de imagem tiveram uma importância fundamental, até chegarmos ao dia de hoje em que quase tudo é imagem, qualquer pessoa diz que é fotógrafo e há milhões de fotografias tiradas todos os dias e como é que essa evolução teve consequências políticas, sociais, culturais e pessoais. Desde a primeira linha do livro, sabemos que este fotógrafo vai morrer em breve e, portanto, queremos descobrir porque é que ele morre, como é que ele morreu e como é que a vida dele o levou àquele ponto.
Muito pouco do que escrevo é inocente. Inocente de ser não intencional, de não conter em si sementes de sentido e sinapses estendidas para outro lugares, tempos, palavras, sons, música. E desde o primeiro livro, os Radiohead sempre. O primeiro capítulo de "Virá a morte e terá os teus olhos" chama-se Onde eu acabo e tu começas.
"Josef mal tocara na sua água com gás e tentava catalogar aquela energia. Um desfiladeiro intransponível de nervos e medo? Um principiante sem tiques de estrela ou um puto com a mania? Um miúdo sem hipóteses? Josef em frente à porta do edifício do jornal noutro Outono, máquina na mão, a querer um estágio. Fernando e Miranda a entrar na universidade, longe, longe de Josef, de Hannah. Anos e anos a passar. Meio século de Josef Leitz. Felix poderia fechar o círculo, ser um círculo perfeito?"
(...)
"A hora é a do crepúsculo, há um azul muito azul no céu, um azul de que Miranda se lembra com a nitidez imprecisa de uma cor, sem contornos, sem foco, apenas a cor. Turquesa? Ametista? Que sabe ela das cores? Está com Fernando de costas, em silhueta, de mão dada. Olham as luzes, olham um círculo perfeito, a roda gigante. Onde foi?"
(...)
"Ao lado de André, nos degraus que rodeiam a fonte e a estátua de Eros, sentou-se um rapaz alourado com uma penugem como barba, vestido de preto e cinzento, uma fita no cabelo. Espreita-lhe a t-shirt que diz "Stay hungry! Stay foolish!". Fica a pensar nas palavras e como desenham um círculo perfeito, uma espiral, um remoinho, esfomeado, insensato. Terá de ser sensato para se conseguir alimentar, não? Olha-o insistentemente, espreita o caderno onde o rapaz começou a desenhar uma fachada do outro lado da rua, mas é ignorado. Não vale a pena meter conversa."
A capa do "Virá a morte e terá os teus olhos" foi desenhada por mim, à falta de melhor, e pensada para ser vísivel em meios eletrónicos, visto que era esse o destino do livro. Letras grandes, cores contrastadas, um desejo de impacto no mais pequeno dos thumbnails. Mesmo assim tentei somar-lhe alguma inteligência, as letras parecem desfocadas por olhos semicerrados, a fotografia de fundo é o lusco-fusco urbano dos momentos chave da história.
Antes dessa, fiz outras versões e não tenho a certeza de qual seria a minha preferida. É provável que não fosse a final (à direita), se o livro fosse em papel. Sendo um amador, apesar de me ter decidido, nunca fiquei realmente convencido. É também provável que a minha participação na capa fosse meramente opinativa, se o livro fosse em papel. O que é uma coisa boa.
Desenhar capas de livros devia ser deixado aos profissionais e não tentado em casa. Como aquelas mensagens que aparecem a propósito de desportos violentos ou radicais. A verdade é que há demasiadas capas más ou que parecem ter saído todas da mesma fotocopiadora, na edição em Portugal. Mas desconfio também que há demasiada gente que lê poucos livros, até os que edita, na edição em Portugal, deixando essa tarefa a opinadores e revisores.
Seja como for, já comprei livros só pela capa, pelo-me por tê-los nas mãos, gosto de os cheirar, como uma personagem do "Em Silêncio, Amor", de longe o meu livro com a pior capa. Sigo a questão com a atenção que posso e acho, por exemplo, as coleções da Penguin brilhantes, as capas em Espanha e França desinteressantes, em Inglaterra e nos Estados Unidos mais variadas. Vale a pena espreitar o Caustic Cover Critic.
Sim, editei em e-book, mas estou com o Chip Kidd nesta TED Talk, adoro a thinginess dos livros, aquilo que neles puxa por todos os nossos sentidos. O vídeo veio via Bibliotecário de Babel.
Demorei três anos a escrever um livro chamado "Virá a Morte e Terá os Teus Olhos". É a invenção de um fotógrafo chamado Leitz, de um rapaz que quer ser modelo mas esconde os seus motivos, uma paixão ou várias, quase no sentido religioso do termo, não necessariamente de um pelo outro, mas de cada um no seu mundo, um sofrimento que nos toma completamente, vindo de dentro ou de fora. Anunciada na primeira linha, a morte desse fotógrafo. Passa-se em cidades. Passa-se numa praia. É também um livro sobre fotografia, o que é, o que foi, o que vai sendo e sobre o século XX, definitivamente o século da fotografia.
Editei-o apenas em e-book, expliquei porquê e expliquei como. Além de tudo isto, fiz uns vídeos de apresentação que culminaram num booktrailer que se repete aqui. Se isto tudo vos convencer... as instruções de compra estão abaixo.
Virá a morte e terá os teus olhos de Luís Soares está apenas disponível em formato de livro eletrónico:
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Em qualquer dos casos, poderá fazer download dos primeiros capítulos sem pagar, para ajudar na decisão da compra.
Felix Ulisses Braziel de seu nome completo, adolescente, digital, suburbano, candidato a modelo nunca é bem o que parece, o que é natural em alguém que se esforça mais por parecer do que por ser. Ou talvez não, quem ler que descubra. É uma personagem de densidade variável, nem sempre transparente, no seu esforço por parecer opaco, como se essa opacidade o tornasse profundo.
Seja como for, é produto do seu tempo, tem a consciência aguda que os adolescentes reservam à imagem no espelho e procura ser mais do que é, libertar-se do que é, multiplicar o que é, negar o que é, todas estas, nenhuma delas ou todas ao mesmo tempo. É uma idade confusa.
Quando o escrevi, não tinha uma imagem na cabeça, tinha muitas, um caleidoscópio, e noutro lugar desta paisagem infinita de espaço e tempo que é a Net, fui construindo uma espécie de paisagem visual do que poderia ser esse Felix, picada dos milhões de imagens que povoam a rede. Uma amostra aqui abaixo.
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Josef Leitz não tem esse nome por acaso. Raramente as minhas personagens têm nomes por acaso. Josef tem o mesmo apelido do fundador da Ernst Leitz Optische Werke, empresa onde nasceram pela mão de Oscar Barnack as máquinas fotográficas mais famosas do mundo. Aliás, Leica quer dizer precisamente isso, Leitz Camera. As Leicas foram as primeiras máquinas práticas de 35mm, com negativos no formato 24x36mm, ainda hoje um standard na fotografia. É a dimensão dos sensores das máquinas digitais ditas full frame.
A Leica M3, a máquina de Josef, surgiu em 1954 e está na fotografia abaixo. Foi o modelo de maior sucesso da empresa. Mais de 200.000 foram produzidas até 1966. Josef ainda a usa, nessa sexta feira de 2010 em que sente o outono chegar. Teve muita outra "tralha", como ele diz (uma Kodak No. 3A Autographic Special, uma Kodak Retina II, que eram do seu pai, uma Polaroid Automatic 250 Land Camera, uma Nikon FM2, uma Rolleiflex, uma Yashica, uma Hasseblad, uma Pentax ME Super, uma Rolleiflex com duas objectivas e uma Polaroid SX-70) além da novíssima digital de bolso, que parece um maço de tabaco. A Leica contudo, foi e será sempre a sua máquina.
Tudo isto é relevante para o passado, presente e futuro do meu fotógrafo ficcional, do seu encontro com Felix. Talvez este apego a esse objeto maravilhoso, mecânico e esmurrado, explique muita coisa.
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Como se edita um e-book? Como se compra um e-book? Como se lê um e-book? Como sobrevivemos às saudades da textura e cheiro do papel?
Comecemos pelo fim: não se sobrevive. Mas também não se sobrevive a ver um filme numa sala de cinema escura, a ouvir música ao vivo ou em vinil, a ler notícias no papel de jornal. O que nunca me impediu de ver filmes na televisão, ouvir música em CD ou MP3, ler notícias na Internet. Escolher um novo meio não implica esquecer os antigos.
O meu pai, cinéfilo inveterado, adora em primeiro lugar a sala de cinema mas se há coisa que aprendi com ele é que também se pode ver filmes na televisão, em VHS, DVD, Blu-Ray. O que interessa é conseguirmos chegar ao filme de uma forma bastante aproximada a como o autor o imaginou. E aí gostar ou não gostar.
A mesma coisa serve para os livros. Tenho um Kindle, mas já li muito em outros ecrãs, no computador, no telemóvel. O que não me impede de ser ainda um fetichista do livro em papel. O fabuloso "Binocular Vision" de Edith Pearlman, por exemplo, li em papel. Vai merecer um post em breve.
Parece-me que acabei por arrumar os dois últimos pontos, mas vale a pena esclarecer mais um pouco. O Kindle tradicional é mais barato e funciona melhor com luz natural, é menos cansativo e só serve para ler. O iPad é mais caro, mais potente, mais versátil mas vai gerar necessariamente mais distrações. E quem diz iPad, diz qualquer outro tablet do mesmo tipo.
Além dos dispositivos, há aplicações para ler livros em todos eles. O ecossistema da Amazon sempre me pareceu mais amigável, fácil de usar, sincronizável nas várias plataformas e tem, para já, a minha fidelidade. Além do mais é mais amigo dos autores.
Editar um e-book é complicado. O mercado ainda é uma selva e os grandes operadores como a Amazon ou Apple tendem a privilegiar editoras já existentes e agregadores a autores. A Amazon criou um processo mais fácil. Editar directamente na iBookstore da Apple é Kafkiano, é preferível escolher um agregador. Usei o Smashwords, que é bastante explícito e fácil de usar. Na Amazon, o Kindle Direct Publishing é melhor do que qualquer agregador e o processo é relativamente rápido. Em 48 horas o livro estava publicado.
Faz falta o trabalho da editora, não se pense que não. Já atualizei os meus livros nas respetivas lojas online mais do que uma vez. Nada de fundo, apenas para corrigir gralhas e desacertos com o acordo ortográfico (obrigado Lourenço). Em papel isso teria sido impossível a não ser com nova edição. A capa foi eu que fiz a partir de uma fotografia minha, esta aqui ao lado. Para a promoção falta-me tempo, qualquer ajuda será bem vinda. É claro que muitas editoras falham nisto tudo também, mas isso é outra conversa.
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"Estacionou numa ainda madrugada de nevoeiro, num canto suburbano e desconhecido da cidade, um canto dobrado, invisível quase, desse mapa que julgava conhecer tão bem, tão longamente. Estava atrasado mas não mais que dois minutos. Tantos anos depois continuava obediente ao credo de pontualidade do pai. Saíra com tempo de sobra para descobrir o caminho, perder-se na penumbra lúgubre, reencontrar-se, chegar por fim ali, aquele lugar estranho a dissolver-se na primeira luz esbranquiçada.
Olhou em volta e enumerou o espaço, os seus elementos, prédios altos indistintos, carros, nesgas de relva orvalhada e árvores, uma linha de comboio dupla e silenciosa, mais acima um barranco de casas envelhecidas e remendadas, barracas quase, roupa estendida a secar, janelas que pareciam fechar mal, em tudo um silêncio da hora. Pelos cantos no asfalto, nos passeios, já folhas secas de árvores muito amarelas, começando a acumular-se com o lixo, uma papa na humidade da madrugada.
Um pequeno sobressalto, estacionou e o rapaz não estava na esquina dos contentores do lixo como combinado, anguloso, alto, esperando-o com não mais do que uma mochila de roupa e um sorriso de dentes e sono e orelhas, assim o imaginara. Seria o lugar certo? Esperou. Viu-se no retrovisor, viu as olheiras e o cabelo cansado, uma mancha na pele, outra. Passou um comboio de gente entorpecida. Quinze minutos de atraso e decidiu-se a ligar-lhe de uma cabine telefónica do outro lado da rua, todo o espaço do vidro grafitado com uma caligrafia incompreensível a marcador e lata de tinta.
Tinha adormecido, explicou estremunhado. Demorava uns vinte minutos. Sobe, disse, voz mais certa já. Sobe, estou sozinho. Esperas aqui, não fiques aí em baixo. Número doze, quinto andar, sobe. A insistência não lhe deu oportunidade de recusar. O rapaz desligou. E estava estacionado. E no jipe nada havia para fazer, nem sequer música lhe apetecia, conduzira no silêncio da expectativa. Meteu a máquina digital ao bolso e caminhou nesse fresco que não era já Verão, mas ainda não Outono, uma temperatura de fronteira que lhe arrepiava os braços nus.
Atravessou, passos nítidos no passeio, ressoando nas fachadas arremessadas para ali e para aqui na desorganização da rua, na curva, os caixotes do lixo, os carros estacionados, também eles dormindo na luz azulada das sete. Tudo diferente da sua casa, do seu prédio na densidade do centro. Podia só esperar junto daquela árvore solitária, fumar um cigarro. Podia fotografar a desordem do subúrbio, casas e carros largados na superfície da terra à pressa, sem uma pausa. Não havia tempo para planear, pensar o lugar, pensar a vida, outras prioridades se impunham. Ir trabalhar, ganhar dinheiro, ter filhos, educar filhos, gastar dinheiro, perder de vista os filhos e os seus destinos. Josef sabia como era."
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O fotógrafo que inventei, por ser inventado, não tirou fotografias reais. Ou tirou? Se calhar é ao contrário, há fotografias reais que se transformaram em fotografias na ficção de Josef Leitz.
E o que é afinal uma fotografia real, nestes dias em que uma empresa paga mil milhões de dólares por outra, em que essa outra o que faz é dar-nos ferramentas para partilhar fotografias digitais como se fossem fotografias analógicas, com efeitos vintage. Somos todos fotógrafos? Quantos de nós bons?
Aqui ao lado, um amontoado de fotografias que podiam ter sido feitas por Josef Leitz. A maior parte foi até feita por mim, que o inventei.
Aqui noutro sítio há uma espécie de inventário visual de Felix, o contraponto de Josef, um conjunto de imagens da rede que podiam ter sido tiradas a um qualquer desses "rapazes suburbanos confiantes em vidas vazias, essas raparigas com uma réstia de esperança, e ele com o seu olhar mecânico apontado aos corpos que despem sem preconceito, que vestem como lhes mandarem e nos olhos esse brilho, essa vontade de ser mais do que esses corpos ou através desses corpos serem tudo."
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